Sobre fazer 50 anos

Quando criei este blog, pensei em expressar o que sinto e penso sobre a “dança da vida e suas superações” para deixar um certo legado ao meu filho e também inspirar a quem possa se interessar pelo assunto.

O propósito é por admirar pessoas com histórias de superação e também por escolher superar os obstáculos que a vida sabiamente me apresentou, apresenta e apresentará.

Ter feito meio século no passado dia 23/12/20 deu vontade de escrever de forma resumida, porém com alguns pontos marcantes ao longo destas 5 décadas.

Adianto que será um artigo biográfico nada romântico, porém  tem pitadas de romance, como também tem aventura, drama, comédia, enfim a vida como ela é. Será um artigo mais longo que os anteriores e para facilitar vou retratar alguns acontecimentos por década, então senta que lá vem história!

Meus primeiros 10 anos de vida

Nasci numa família financeiramente pobre, meus avós maternos, os quais não conheci vieram da Itália e de Portugal fugidos da guerra.

Do meu avô paterno só tenho uma única lembrança: meu pai com seu bafo de cachaça me forçou a beijar a testa dele em seu caixão, não lembro quantos anos tinha, mas devia ser menos de 4 e lembro de um véu roxo o qual a cor me traumatizou por anos, odiava essa cor e o mais interessante é que hoje é uma das minhas cores favoritas. Minha avó paterna foi a única que conheci, mas não sentia nenhuma conexão amorosa. Todos já fizeram suas passagens, meus pais e meus avós.

O reflexo da pobreza que mais me atingiu e senti quando criança não foi o financeiro, mas sim o de nascer em uma família completamente desestruturada, com pai alcoólatra e mãe doente não só fisicamente, mas emocionalmente.

Família Bucapé

Somos 10 irmãos, 9 vivos e 1 falecido (o Fabinho, Fofo era seu apelido), o Fofo tinha síndrome de Dawn e faleceu aos 29 anos de idade). Somos 6 irmãos por parte de pai e mãe e mais 4 por parte de mãe.

Fomos criados todos separados e bem distantes um dos outros porque nossos pais não tinham condições de nos criar e educar, então separaram-nos e cada um de nós cresceu e se desenvolveu como pode.

O mais interessante é que sempre existiu uma força muito grande  (falo por mim) de querer estar junto, de nos unir de alguma forma e sempre que percebo alguma oportunidade tento reunir quem puder estar junto. Sempre é um processo nada fácil, porém de muito amor e respeito.

Enfrentando as dores

Precisei aprender a lidar com o medo, com a tristeza e o abandono já na infância, pois meus pais não tiveram os cuidados básicos nem comigo, nem com meus irmãos, aliás nem com eles próprios e o resultado foi e é constatar que nessa vida nada e ninguém preenche o lugar de uma mãe ou de um pai, porém é possível aprender lidar com o vazio causado sem drama e sem ser vítima das circunstâncias. Foi chato, mas aconteceu e infelizmente acontece com muitas pessoas, mas vida que segue e o que não mata nos fortalece.

Camaleoa…

Era uma criança quieta, bastante observadora e era fácil as pessoas gostarem de mim porque era “meiga” (escutava isso) não chorava e me adaptava rápido e fácil as situações e às pessoas.

Aprendi a ser uma camaleoa desde cedo e esse é o lado positivo que reflete na minha vida adulta até os dias de hoje, sou fácil de adaptar as situações, culturas ou pessoas, claro depois que me tornei “madura” aprendi me defender e me posicionar, o que faz toda à diferença.

Transformações

Valores, princípios e cuidados que observava nas famílias alheias, só fui descobrir e desenvolver por instinto quando me tornei mãe. Quando meu filho nasceu, foi a maior responsabilidade que já senti na vida, pensava: “trate de ser o que você quer ensinar”.

Em parte, me tornei a mãe que gostaria de ter tido e amo ser mãe do Rodrigo que hoje é um adulto de 29 anos.

Ambos moramos distantes geograficamente mas somos presentes e temos um relacionamento saudável.

Educar com amor, carinho e respeito foi e ainda é meu maior projeto desta vida, a maior benção e meu melhor presente de Deus.

Harmonizar para sentir paz com tudo e todos

Há alguns anos meu relacionamento com meus pais e com minha família flui em harmonia, amo, respeito e honro cada um deles, mas foram muitos anos processando e cuidando das feridas que deixaram suas cicatrizes.

A grande virada de chave foi quando aceitei e aprendi que o mais importante meus pais me deram: a vida!!!

Tomei consciência há alguns anos que sou 100% responsável pela minha vida e quando aparecem os momentos tensos, aprendi a me tornar minha mãe, meu pai e principalmente minha melhor amiga.

Dos 10 aos 20 anos de idade

Antes de entrar na adolescência, vou finalizar a parte da infância: fui uma criança que cresceu trabalhando e que não brincava com outras crianças, era um evento raro brincar pois eu era a escolhida para cuidar dos mais novos em troca de alguma coisa;  dinheiro ou comida e houve um período que eu morava e limpava a casa para uma “suposta madrinha”, aliás ela me ensinou muito e me tornei, modéstia parte, uma boa dona de casa.

Na adolescência foi ainda mais intenso, pois eu cresci trabalhando bastante e não me dava conta que tinha um rosto “bonitinho”, descobri adulta quando relembrei durante uma sessão terapêutica: “foi em uma entrevista que fiz para uma agência de empregos, estava com 14 anos de idade, era para ser babá e a pessoa que me entrevistou  disse que não ia  me contratar porque meu rosto era “bonitinho demais para ser babá” e poderia causar problemas conjugais.

Adolescência não é fácil para a maioria e a minha não foi diferente, foi confusa, tensa, baixa auto estima e a melhor parte foi quando terminou.

Mãe fanática

Tinha 14 anos quando levei minha mãe ao médico pois ela estava há alguns meses com hemorragia, mas ignorava completamente a situação, minha mãe estava tomada por um fanatismo religioso e dizia que a hemorragia era por ter se tornado “mocinha novamente” e estava passando por um processo de limpeza no organismo. Depois de uma luta em argumentos, consegui  convencê-la e finalmente levá-la ao médico. Descobrimos que estava com um câncer em fase bastante avançada e o médico disse que ela viveria  aproximadamente mais 3 anos e minha mãe viveu mais 6 anos.

 O Nascimento do meu filho

 

Aos 19 anos estava grávida do Rodrigo, tive uma gestação um tanto estressante pois minha mãe estava em fase terminal.

 

Não sei onde encontrava sabedoria para conversar com meu filho na barriga e tinha altos papos com ele, explicava o que estava acontecendo: ” aqui do lado de fora” (da barriga) e todo o medo, preocupações que estava sentindo era devido a situação com a vovó, não era culpa de ninguém e para ele não se preocupar que tudo iria passar e ficar bem. Dizia que ele era uma benção, o melhor presente que Deus havia me dado e que ia ser a melhor mãe do mundo para ele.

 

Colocava músicas clássicas para acalmar e minha barriga mexia bastante, o Rodrigo amava e respondia com chutes. Coincidência ou não, ele se tornou músico.

A chegada e a partida, os contrastes da vida

Consegui cuidar da minha mãe até meus 7 meses de gestação quando fui morar por aproximadamente 2 meses no Guarujá acompanhando o pai do meu filho que estava trabalhando por lá. Nesse período minha mãe ficou internada em um hospital.

Voltamos a morar em São Paulo e o Rodrigo nasceu em 26/06/91 quando eu estava com 20 anos de idade. Minha maior benção e alegria.

Minha mãe  estava internada em fase terminal quando fez sua passagem no dia 17/08/91. Minha maior tristeza.

Dos 20 aos 30 anos

Início de 1992 – Coloquei meu filho em um berçário ainda bebê e fui trabalhar como vendedora no shopping Iguatemi de São Paulo e logo me tornei gerente da loja Pandemonium (aliás, faliu), o dono da loja descontava do meu salário o valor quando alguém roubava  algum produto,  ficava indignada por ter que pagar o que os outros roubavam, mas não tinha o que fazer.

Peguei o inicio do shopping  abrindo de domingo à domingo, das 10:00 às 22:00 hs e depois de  2 anos trabalhando nesse ritmo insano de 10/12 horas por dia, me sentia culpada por não curtir meu filho como gostaria e também exausta pela jornada de trabalhar fora, cuidar de filho, cuidar de casa, aquela luta que muitas mulheres enfrentam.

Conexões dos anjos 

Existem algumas conexões de pessoas nas nossas vidas que acredito serem anjos que Deus coloca no caminho e foi aí que uma “anja”,  percebendo meu conflito me apresentou para trabalhar na revista Vogue. Redescobri a alegria de ter finais de semana e poder curtir meu filho e também descobri uma nova profissão.

Retornei aos estudos aos 29 anos (havia trancado na adolescência) e escolhi jornalismo, mas continuava trabalhando em publicidade pois tive medo de iniciar uma nova carreira de jornalista, porque o salário que ganhava com a publicidade garantia termos uma vida modesta, digna e investir nos estudos do meu filho.

Lembro de uma vez ter saído as 5:00 am de casa para fazer uma reunião em Brasília e deixado uma cartinha ao meu filho para quando ele acordasse, pois sabia que quando chegasse em casa ele estaria dormindo  pois seria noite, era um dia de prova na faculdade e não podia faltar, fiz um bate e volta indo direto fazer a prova. Foi uma época puxada, mas valeu!

Dos 30 aos 40 anos

Tive a oportunidade de trabalhar em alguns veículos renomados de comunicação e acompanhar as várias fases do mercado publicitário como, por exemplo, o auge da revista Caras a qual trabalhei por 3 anos, como também acompanhei o declínio de alguns jornais como a Gazeta Mercantil na qual também trabalhei.

Dos meus 23 aos 45 anos trabalhei e acompanhei muitas transformações na mídia impressa e online, algumas no auge, mas outras no seu declínio.

Resumindo a ópera dessa década: me formei e meu filho foi o padrinho dançando no baile de formatura comigo, na época ele estava com 12 anos.

Me separei do pai do meu filho (estava com 32 anos), nós nunca casamos e ele morava com sua mãe, aliás um relacionamento ioiô que teve inúmeras tentativas de voltas (eu morando com nosso filho e ele morando com a mãe), voltávamos como namorados com intuito de acertar mas só desgastou e foi um erro, o lado bom foi aprender encerrar ciclos e aprendi  o valor de morrer internamente para renascer. Precisei matar alguns “vírus”como baixa auto estima, carência, ilusão e culpa.

Esse processo de morte e renascimento foi muito intenso, pois tive depressão aos 33 anos, muitos altos e baixos emocionais, amorosos e financeiros durante essa década.

Dos 40 aos 50 anos

Queria crescer na carreira e na primeira oportunidade fiz MBA em marketing e me graduei aos 43 anos de idade.

Aos 44 anos me separei (nos casamos quando estava com 40 anos), dessa vez foi por não conseguir  mais ter filhos (meu ex-marido queria muito), engravidei duas vezes, mas perdi espontaneamente e isso foi desgastando nosso relacionamento. Acredito que Deus sabe o que faz, foi difícil e muito doloroso, mas tudo passa e passou.

Aos 45 anos fui demitida de uma multinacional a qual trabalhei por 8 anos e essa foi vendida. A nova empresa demitiu praticamente todos os funcionários da antiga empresa.

 

 

Depois da separação com meu ex-marido e 1 ano antes de ser demitida, fiz uma viagem de férias de 10 dias para o Peru, em Machu Picchu com o propósito de fazer um balanço e também um detox do que estava fazendo da minha vida: o que precisei aprender e fazer para limpar aquela dor que ainda sentia.

 

 

 

Em uma conversa nunca tida antes com Deus fiz muitas perguntas e questionamentos.

Sem as respostas e sem entender muito bem, comecei a trabalhar em mim a aceitação da dor, dos fracassos e os encerramentos dos ciclos.

Antes e depois

Quando veio a demissão apesar de uma certa frustração, pois tinha certeza que a a nova empresa me contrataria, só que não, mas no fundo e lá no fundo do meu útero mesmo sentia uma brisa boa, uma sensação de como se tivesse vivido um “antes” em uma gaiola e o “depois” que estava por vir com ar de alegria e paz, mas não sabia lidar com aquilo pois era completamente novo.

Me conectei com aquela sensação, comecei a escutar meu corpo com mais atenção e consciência.

 

Minha fonte de Inspiração

 

 

O que me deu muito estímulo foi ver meu filho alçando seus vôos e se encaminhado para suas conquistas (estava com 25 anos), idade que a mãe já não é mais necessária e nem tem prioridade.

 

 

 

 

Ao mesmo tempo  sentia frio na barriga de medo desse “novo” que já tinha me virado do avesso (separada, desempregada e com filho voando para o mundo), decidi me nutrir de coragem e comecei alimentar essa virtude.

Fluir com responsabilidade

Sem saber que seria demitida (19/11/15), havia comprado uma passagem para passar Natal e Ano Novo na Florida na casa de alguns amigos (08/15).

Chegando em Miami na imigração quando tive o carimbo de turista, um orelhão de fichas começou a cair e pensei: “não preciso voltar dia 3 de janeiro, fui demitida, fazer o que no Brasil? O país só começa depois do carnaval e ninguém vai me contratar antes disso, ou seja, posso trocar minha passagem e realizar aquele sonho que ficou engavetado: conhecer a California”.

E assim foi! Com a ajuda da minha amiga (ah esses anjos em forma de amigos) planejei uma linda e merecidas férias onde éramos somente Deus e eu, aliás super recomendo viajar sozinho de vez em quando, sair da zona de conforto nos faz crescer tanto e uma vigem faz isso de forma prazerosa e divertida.

“Como uma onda no mar… a vida vem em ondas”

“Garota eu fui pra Califórnia”, mas não foi sob as ondas como diz a letra da música do Lulu Santos e foi sentada em uma bike mesmo que aluguei. Rodei bastante de bike  e foi pedalando que comecei a ter muitos “insights” do meu futuro e todas aquelas respostas que havia feito lá em Machu Picchu um ano atrás,  começavam a ser respondidas.

 

Pedal da Golden Gate a Sausalito

 

 

Foi pedalando vários dias, em lugares diferentes pela Califórnia que ficava pensando em tudo: um tal de volta ao passado, de volta ao futuro, sentindo no presente uma brisa, o vento no rosto, tipo : “o vento beija minha pele ao invés dos cabelos” que só quando estamos sozinhas, em silêncio somos capazes de sentir.

 

 

 

 

Resumindo agora a ópera dessa década: aos 45 anos vim para os Estados Unidos aprender inglês como estudante, optei pelo caminho legal (literalmente), conheci o Mark (o amor da minha vida), nos casamos (estava com 46 anos) e durante esses 3 anos criei esse blog, um canal no Youtube e no ano passado me formei em professora de yoga.

Atualmente dou aulas de yoga, trabalho em um restaurante que amo, falo e entendo inglês.

 

Como sei que o Mark é o amor da minha vida?

 

 

 

Ah esse é um tema para um próximo artigo…

Como não celebrar meus 50 anos?!!

Meu marido me deu de presente de aniversário, a comemoração no Brasil e foi o melhor presente que recebi.

Estar ao lado do meu filho no meu aniversário, Natal e Ano Novo depois de um ano longe foi sagrado, divino e precioso.

Como a vida é feita de contrastes, houve o lado tenso e a atmosfera da pandemia estava bastante pesada. Foi e é muito triste sentir ou respirar esse estresse, dor, medo ou pânico desse vírus Covid-19. Acredito que a parte que nos cabe é cuidar da nossa saúde mental, física, emocional e espiritual.

O fato é que fui com medo e tudo, frio na barriga, mas com a imunidade alta em amor, responsabilidade e respeito, afinal para estar com meu filho e minha família valeu e vale qualquer sacrifício.

Viver é para os fortes e corajosos!!  

Acredito que todos somos fortes e corajosos, apenas precisamos alimentar mais as virtudes do que nossos pecados/fraquezas para fazer escolhas conscientes sem ser vítima das circunstâncias.

Hoje estou aqui celebrando com você que está lendo minha bio e gostaria de inspirar quem quiser a praticar a frase filosófica de Jean Paul Sartre:

  • “Não importa o que fizeram com você, o que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.

Afinal, qual o sentido da vida?

Estou pronta para viver e aprender nos próximos segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e quantos anos eu tiver direito porque sei que um dia vai acabar e quero olhar para o retrovisor da vida sentindo a graça de ter vivido uma vida de verdade, tendo realizado meu propósito, missão e valor nesta jornada que foi fazer do caminho (com todas suas dores e amores) à felicidade e não o destino final. Não fiquei olhando a vida acontecer, mas fiz acontecer: errando, acertando, rindo, chorando, conquistando, fracassando, aprendendo, desaprendendo, ganhando, perdendo, amando, sendo amada… simplesmente vivendo com tudo o que a vida oferece de melhor com todos os seus sábios contrastes.

Desejo um excelente 2021 com SAÚDE em todos os setores da sua vida, sabedoria, coragem para viver com amor e gratidão o que tiver que ser, pois a vida simplesmente acontece em constante transformação.

De uma cinquentona sapeca, com amor, alegria e gratidão,

Juntos somos melhores e mais fortes!!!

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