Passamos grande parte da nossa vida aprendendo que ser bem sucedido é a grande chave para a felicidade. Almejamos isso. Batalhamos por isso. E não há nada de errado. Independente do contexto ou critério, aprendemos que o esforço para ser bem sucedido nos levaria aos patamares de aprovação e reconhecimento. A questão que todos sabemos é que na prática, a teoria é outra. Ou seja, fazemos parte de uma geração que aprendeu que o fracasso é sinônimo de rejeição, desaprovação e vem acompanhado a sentimentos igualmente desconfortáveis. Desde as notas da escola, os padrões estipulados pela sociedade, entre outros fatores que por muitos anos definiram o conceito de sucesso. Não somos ensinados a lidar com fracasso e por isso temos em redes sociais uma grande maioria de registros de pessoas bem sucedidas, de tantos troféus de primeiro lugar (mesmo que tenha apenas dois competidores, o importante é a foto do troféu!), de amores eternos e constantemente apaixonados, de filhos perfeitos, finais de semana impecáveis, etc.
Lógico que queremos ganhar, obviamente ninguém inicia um projeto esperando não ser bem sucedido. Nenhum atleta inicia uma prova esperando o segundo lugar. Claro! Sabemos que a persistência e a determinação é a chave do sucesso, que ter um propósito aumenta a resiliência na batalha, que somos mais do que soldados, podemos ser generais de nossas vidas. Mas aprender a errar e aceitar a própria vulnerabilidade é o que nos faz ganhar tempo em meio aos desafios, te ensina que aplauso em público nada mais é do que anos em batalha sozinho ( e podemos transformar essas batalhas com mais leveza e resignação). Esse aprendizado sobre o poder do fracasso ressignifica uma série de visões deturpadas que podem estar nos impedindo ou limitando nossas potencialidades.
O que não nos ensinaram é que o erro liberta para começar de novo sem prisões emocionais, sem resquícios de status. É a máxima libertação para seguir seu coração. Afinal, não há mais nada a perder. É necessário entender o poder do fracasso e o papel que ele tem em nossa vida e nos objetivos que almejamos atingir. Do contrário, continuaremos a fazer parte da geração mais depressiva, ansiosa e dependente de medicamentos da história da humanidade.
O escritor americano Denis Waitley tem um conceito interessante: “o fracasso deveria ser nosso professor, não nosso coveiro. A falha é um atraso, não uma derrota. Um desvio, não uma rua sem saída. O fracasso é algo que só conseguimos evitar se não dissermos nada, se não fizermos nada e não formos nada”.
Vamos trazer o contexto da realidade em que vivemos: estamos em meio a uma transformação digital, em pleno mundo VICA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), ou seja, o contexto atual não tem respostas prontas. Vivemos um universo disruptivo, sem precedentes e a inovação passa a ser a chave para encontrarmos soluções para os atuais dilemas. Aí que mora o desafio: como então ser bem sucedido em um mundo tão imprevisível? (não sei vocês, mas essa para mim sempre foi a pergunta de um milhão de dólares! E, óbvio, fui pesquisar o que a ciência e o mundo corporativo vêm aprendendo com essa pergunta, além de contar também com minha própria experiência). Vamos lá!
Uma recente pesquisa americana identificou uma das competências imprescindíveis para a inovação e para esse novo contexto: adivinha qual? A capacidade para lidar com fracassos! Sim, olha ela aí, sob nova roupagem, e com uma análise muito mais profunda do seu real significado. Se pararmos para analisar, é quase óbvio: uma grande ideia não surge como Eureka! Parte de um insight, uma direção, que exige aprofundamento, ajustes e recomeços para efetivamente, encontrar seu formato ideal. Saber lidar com o fracasso é o real combustível para a determinação e persistência. Caso contrário seu efeito é tão devastador que pode até mesmo tirar da pessoa sua auto-estima e as crenças sobre seu valor e potencial. É só pensar quantas pessoas iniciam um projeto e não conseguem dar continuidade a ele, seja pessoal ou profissional. O fracasso, quando aprofundado, questionado e construtivamente explorado tem um poder único de te guiar na direção correta e dar a dose exata da motivação e entusiasmo para seguir adiante. Imagine se essas pessoas do vídeo abaixo tivessem deixado os fracassos impedirem elas de seguirem seu propósito e seus sonhos? O que seria do mundo sem essas histórias de sucesso?
Talvez você possa se perguntar, mas como eu posso fortalecer essa habilidade? Muitas vezes a consequência desse fracasso é tão devastadora, como buscar forças a partir disso? Seguem algumas lições preciosas.
Primeira lição
A primeira coisa é entender que você fez o melhor que poderia naquele momento com os recursos que eram disponíveis (esse pensamento não é para colocar você em nenhuma posição vitimada ou complacente. É apenas um fato, já que ninguém em sã consciência espera fracassar em algo).
Segunda lição
Assumir 100% da responsabilidade. Não é culpa de ninguém. Você pode ter sido influenciado por inúmeros fatores externos, mas ninguém é capaz de decidir nada por nós. E assumir essa responsabilidade é o primeiro passo para a se libertar da culpa do fracasso. Sem isso, ficaremos remoendo apenas as emoções. Sem foco, sem lições. Apenas na dor e na prisão do passado. Ou seja, não irá servir para nada a não ser aumentar a dor e limitar possíveis passos futuros.
Terceira lição
O que isso tudo pode me ensinar? Sem os questionamentos certos, você poderá voltar a cometer os mesmos erros, já que eles não foram estrategicamente explorados para criar “cascas”, fortalecer. Apenas para criar um casulo onde o medo e os traumas são os guias. E as consequências? Fazem com que a gente se feche ainda mais para o mundo, para o risco, para o amor e para o novo. Ou seja, no medo, apenas sobrevivemos. Não vivemos. Algumas perguntas importantes de fazer: O que isso tudo pode me ensinar que não estou vendo? Se eu pudesse começar novamente, o que faria de diferente? Como as pessoas que mais admiro me ensinariam a lidar com isso?
Quarta lição
Não se compare. Um dos maiores erros que levam as pessoas a desconsiderarem as três lições acima é o medo do que os outros vão pensar. Como vou explicar aos entes queridos que não sou o que esperavam de mim? Simples. Aceitando as três primeiras lições. Com autenticidade. E verdadeiramente concentrando suas energias nos próximos passos e no poder de libertação que o fracasso tem. Todos nós já erramos e ainda vamos errar muito. Isso só significa que estamos fazendo coisas diferentes, arriscando novos caminhos e vivendo novas coisas. Isso não é lindo sob essa perspectiva? Se ainda precisar de mais inspiração sobre essa lição, segue o que é na minha opinião, um dos melhores vídeos sobre isso. Esse é o discurso super conhecido que o Steve Jobs fez na universidade de Stanford sobre seus fracassos e sua história. Um clássico que sempre vale a pena ver novamente:
Quinta lição
O fracasso é a lição mais poderosa contra a arrogância e o orgulho. Segundo Thai Nguyen, empreendedor que escreveu um artigo super interessante sobre isso (abaixo, deixo um link para quem quiser ver), “o que diferencia pessoas bem sucedidas das outras é sua resposta às experiências que deram errado. Elas lambem suas feridas, mas continuam no campo de batalha. E encontram forças em suas cicatrizes. A rejeição substitui o orgulho por humildade e essa, por sua vez, pode ser aquilo que vai te salvar de uma queda pior.” Somente o orgulho e o ego tentará ludibriar as demais lições e invariavelmente, os erros se repetirão, até que as lições sejam aprendidas.
Artigo Thai Nguyen para a revista Entrepreneur: https://www.entrepreneur.com/article/241794
E eu, particularmente, tive uma lição bônus do meu filho de um ano e onze meses sobre isso essa semana. Sim, pasmem! Menos de dois anos e lições extraordinárias para a vida. Estávamos felizes, concentrados montando um enorme castelo com blocos de montar. Acho que eu estava mais empolgada que ele. Realmente o castelo tinha ficado enorme, lindo! Eu contemplava nossa obra conjunta e falava em voz alta: “Olha filhote, que castelo maravilhoso montamos juntos!!”. Ele parou, olhou para o castelo e em questão de segundos, simplesmente destruiu tudo, sem pestanejar. Eu reagi: “Mas filho, nosso castelo estava tão lindo, construímos com tanta dedicação!” Ele sorriu, olhou para mim e disse: “mamãe, vamos construir outro castelo”. Eu ri e pensei com muito carinho nesse mindset desapegado e mais feliz com o que estava por vir do que com o que havíamos feito. Óbvio que o castelo tinha ficado lindo. Mas ele realmente não servia para mais nada.
Foi aí que me dei conta que os apegos às obras, aos rótulos, às imagens construídas sobre nós mesmos podem ser aprisionadoras. Que os problemas não são os tropeços. Muitas vezes insistimos em nos apegar às pedras. Costumo dizer em meus treinamentos corporativos, precisamos ter mindset de waze. O gps não fica questionando ou te acusando por não ter virado na direção indicada. Ele apenas recalcula a rota. Sem dor, sem apegos, apenas foca no destino final.
Meu desejo para este mês meus queridos, é que a gente potencialize nossa habilidade de recalcular a rota. Com menos dor, mais inspiração. Porque há muito a ser vivido. Sem a prisão e a dor do que ficou. Mas com os aprendizados para um futuro diferente. Honrando nossa trajetória, nossa história, mas sem apego à elas.
A lição? Para mim, fica o convite: vamos construir outros castelos?
Um mês de junho incrível para todos nós!
Neuro Coach pelo Neurocoaching Center e Alpha Coaching pela Worth Ethic Corporation.Personal.
Executive coach com especialização em: Transformação Digital e as competências do Século 21. Inteligência Emocional Certificada pela Six Seconds & Propósito