Mas…E a tal da Paciência?

Paciência. Palavra difícil essa…muitas vezes nos traz emoções conflitivas.

No yoga falamos muito sobre paciência, a prática toda requer dedicação, foco e muita paciência.

Às vezes demora anos para se chegar a uma postura, mas que em 3 meses por falta de prática, se perde por mais tantos anos. Fazer o que né?… paciência!

Yoga com paciência e perseverança…

 

 

Penso que a maior frustração dos praticantes de yoga, especialmente os que são portadores do cromossomo Y, está no fato de que os resultados não são imediatos, e que temos que manter a prática diária para manter os resultados obtidos. Os Yoga Sutras de Patanjali falam sobre isso, já alertando a nós, simples mortais, de que paciência e perseverança são necessários.

Fazer o que né?!… paciência!

 

 

 

Atualmente, essa tal paciência veio bater na minha porta de uma maneira inesperada, trazendo tristeza, desespero e cura interior. Talvez você esteja pensando: “professora de yoga há mais de uma década, super zen, cheia de desapego….” pois é: da-lhe paciência!!!

Um pouquinho do meu momento atual

Em março do ano passado, antes do Covid ser uma realidade, meu padrasto faleceu aos 92 anos, com problemas da idade. Em setembro do mesmo ano, minha mãe se mudou para um “assisted living”, onde as coisas seriam, supostamente, mais fáceis para ela. Minha mãe sempre gostou de ter a sua independência, e ali teria companhia de outras pessoas da mesma idade.

Lugar bonito, gente animada… ela estava bem amparada. Até que, o Covid chegou ali e todos os residentes ficaram doentes! Por três semanas não pude visitar minha mãe.

Mudanças inesperadas

Quando finalmente a vi, notei que ela estava um pouco desorientada e fisicamente debilitada, já não estava mais andando e comia bem pouco. Faço um parêntesis aqui – minha mãe tem um problema de sangue há muitos anos, trombose, úlcera, e deficiência cardíaca, portanto o fato de ter tido Covid não é a causa única do seu estado atual.

Diante da situação toda, decidi trazê-la para minha casa…loucura né?!

Ciclos da vida

A tristeza começa quando a enfermeira me informa que, minha mãe não está se recuperando de forma nenhuma, e na verdade estou trazendo-a para minha casa para que ela fique confortável e esteja rodeada pela família, pois o fim se aproxima.

Obviamente, não computei essa informação de maneira eficiente, e achei que meus super poderes de yogini poderiam fazer algo mais para ela, trazê-la a vida, ressuscita-la, sei lá… algo do tipo. Com paciência e foco, a coisa poderia ou vai que pode mudar.

Duas semanas depois da chegada da minha mãe na minha casa, a coisa toda virou ainda mais: ela parou de comer, mal se comunicava e não conseguia mais tomar a medicação. Desespero. Como assim? Ela piorou…?

Impotência

O desespero da alma ao ver a vida chegando ao fim, sem poder fazer nada, NADA…

Me sinto como se estivesse numa história do século XVI, onde as pessoas se sentam ao redor do enfermo esperando, pacientemente, que ele dê o último suspiro.

Paciência, onde está você?!!

Por que não aprendemos a viver os ciclos da vida e da morte com a paciência necessária?
Ninguém me disse que eu teria que sentar com minha mãe e ​pacientemente​ esperar que ela encontre o caminho dela através desse outro “nascimento.”

Fazer e não poder fazer, eis a questão!!

Minha vida sempre foi e é cheia de fazer, fazer, fazer… o desespero bate forte quando não há nada que se possa fazer.

Paciência com o processo, né?! Ufa!!!

Diante dessa parada total no meu ritmo para criar um berço onde minha mãe possa fazer a passagem dela, não tenho outro lugar para onde olhar além do meu próprio “eu” em relação a essa situação, meu relacionamento com minha mãe (ui!), e todas as dores que fazem parte desse todo que está se desfazendo.

O antítodo

A cura interior que vem ocorrendo desde o momento em que decidi trazê-la para casa é difícil e ao mesmo tempo uma benção muito grande.

Como xamã, trabalho há anos com resgate da alma, criança interior e reconhecimento da sombra, e tudo isso veio nesse pacote. Entender a vida através da morte enquanto assisto uma parte de mim mudando para uma outra existência além disso que está aqui, tem sido um grande desafio.

 

Paciência comigo mesma, né?!

 

 

 

Não há yoga que te prepare para tanto! A paciência de olhar para tudo isso e trabalhar com essas histórias internas, tem sido uma jornada incrível e ao mesmo tempo complicada.

 

 

 

 

O leque de emoções, sentimentos e pensamentos é inexplicável, não sabia que alguém podia sentir tudo isso em um dia!

Sim, um dia, depois outro e depois outro… cada dia algo novo para descobrir, entender, resolver, continuar carregando; amar, odiar, rejeitar, abraçar, entender, duvidar, rir e chorar. Vou precisar de yoga nível ninja para me recuperar dessa!

 

A sabedoria dos ciclos da vida

 

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Hoje, enquanto escrevo essa pequena nota, minha mãe está deitada no quarto ao lado, numa cama hospitalar, alheia a tudo que está acontecendo ao seu redor.
Muito lentamente, ela está fazendo sua transição para algo novo enquanto eu a observo e aprendo.

 

Aprendo que a vida é feita de ciclos que requerem paciência e muitas vezes queremos apressar a coisa toda, perdendo assim informações importantes para nossa jornada.

Aprendo que na eternidade desse momento, nada é eterno além da alma, nascemos e morremos todos os dias, tudo começa e termina. Aprendo que nascer e morrer leva tempo, e que os dois precisam de cuidados especiais.  Parar se faz necessário!!!

 

Acolhimento, cuidado, feminino…

Como mulher, me toca no coração uma observação feita por uma amiga querida: “como mulheres, precisamos retornar ao que somos…cuidadoras.” As mulheres sabem cuidar, pacientemente. Será que podemos resgatar essa paciência de nutrir o outro, na vida e na morte?

Hari Om
Celia Hemingway

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