Uma boa relação médico-paciente é baseada em empatia e, principalmente, em confiança. Algumas pessoas se perguntam se é seguro responder com sinceridade a tudo que nos é perguntado em uma consulta médica. Muitas deixam até de expor possíveis dúvidas ou problemas por medo de que estas informações sejam expostas ao sair da consulta. Pois bem, aqui vão algumas dicas preciosas para nos deixar mais a vontade em relação ao sigilo médico.
– O médico precisa mesmo saber de tudo aquilo?
Muitas vezes coisas que parecem desconfortáveis de se contar, como número de parceiros sexuais, uso de drogas ou história de abuso sexual, podem ser essenciais para se fazer um diagnóstico e tratamento correto de alguma possível doença
– O que eu disser em uma consulta pode ser dito a meus pais ou familiares?
Esta é uma dúvida muito comum, principalmente entre adolescentes. Com raras exceções, nada do que for dito em consulta pode ser reproduzido a outras pessoas, sejam familiares ou não. Um exemplo muito comum é o de adolescentes que comparecem à consulta ginecológica e ficam com medo de seus pais saberem se ela ainda é virgem ou não. Existem normativas que garantem que as adolescentes acima de 12 anos já possuem sua privacidade garantida, podendo inclusive entrar desacompanhadas no consultório médico. O médico não pode revelar estas informações a ninguém, mesmo ela sendo menor de idade, ok? Então, meninas, fiquem tranquilas!
– Quais as situações em que este sigilo pode ser quebrado?
Existem algumas situações bastante específicas em que a lei prevê a quebra do sigilo médico. A Justiça pode determinar esta quebra quando houver uma situação que coloca em risco outras pessoas. Alguns exemplos típicos são:
- suspeita de abuso ou agressão a crianças ou adolescentes;
- suspeita de abuso a idosos ou ao parceiro(a);
- quando houver suspeita de ato criminoso, como ferimentos por armas de fogo por exemplo;
- doenças de notificação compulsória, como HIV
Obs: Neste caso, é comum ser solicitado que o próprio paciente conte aos expostos, como parceiros ou possíveis contatos de risco e, é dado um prazo para que isto seja revelado.
– Entre médicos, é obrigatório também manter este sigilo?
Com exceção de casos em que outro médico precise saber das informações para ajudar no tratamento (por exemplo, se for auxiliar em uma cirurgia), não é permitido discutir informações pessoais de pacientes mesmo entre médicos. O sigilo médico garante segredo das informações de pessoas que não tenham nenhuma relação com o caso, sejam elas profissionais da saúde ou não. Isto é válido até nos famosos grupos de whatsapp, inclusive naqueles em que só tenham médicos como participantes.
Infelizmente, exemplos de quebra do sigilo médico estão por toda parte ultimamente. Basta lembrarmos dos exames e boletins médicos da mulher do ex-presidente Lula, Marisa Letícia, que foram compartilhado em diversas redes sociais. Assim, é importante procurar por bons profissionais médicos, e estabelecer sempre uma relação de confiança e honestidade desde a primeira consulta.
Ginecologista especializada em Reprodução Humana, Endocrinologia ginecológica e Anticoncepção FMRP-USP, com mestrado e doutorado