Quando estamos planejando engravidar, basta atrasar a menstruação e já começamos a idealizar o bebê nos braços.
Ao recebermos o tão sonhado “positivo”, logo começamos a fazer planos, pensar em enxoval, bercinhos, decoração do quarto do bebê… Algumas vezes, porém, este sonho não chega a se tornar realidade. É o caso dos abortamentos espontâneos.
A perda de um bebê nas primeiras semanas de gestação é mais comum do que muitas vezes imaginamos.
De acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), perdas gestacionais até 20 semanas de gestação podem acontecer com cerca de 20 a 25% das mulheres em idade fértil.
Parece assustador, mas é isto mesmo – 1 a cada 4 mulheres podem sofrer abortos espontâneos.
Hoje em dia, com testes mais precisos e uma população de mulheres mais “antenadas” para possíveis atrasos no período menstrual, detectamos com mais facilidade a gravidez, e consequentemente suas perdas.
Então, o que antes era considerado apenas uma menstruação atrasada, muitas vezes com um sangramento mais volumoso após este atraso, passa a ser identificado mais corretamente como um aborto.
Assim, é importante saber quando se preocupar com ele e o que fazer para buscar ajuda.
O que é o aborto espontâneo?
É uma perda ou interrupção da gravidez que acontece pelo próprio organismo da mulher, sem uso de medicamentos ou realização de procedimentos que possam ter levado a isto.
Até que idade gestacional é considerado aborto?
Geralmente até 20 semanas (cerca de 5 meses) de gestação, com um feto pesando até 500 gramas. Após 20 semanas se considera óbito fetal.
Quais são os sintomas de aborto?
Os sintomas mais comuns são sangramentos por via vaginal ou visualização por ultrassom de que o embrião não está mais se desenvolvendo ou não tem mais batimentos cardíacos.
Por que o aborto acontece?
As causas são muitas. Malformações, alterações genéticas do embrião, ou seja, embriões que não teriam condições de sobreviver e doenças maternas são algumas das possibilidades. Na maioria das vezes, a causa não pode ser estabelecida.
Alguns fatores podem aumentar a incidência de abortamentos, e podem ser prevenidos.
Entre eles estão: obesidade ou magreza extrema, uso de alguns medicamentos ou drogas, alcoolismo, tabagismo e diabetes descompensado.
Há como prever a ocorrência de um abortamento?
Infelizmente não.
Podemos, no entanto, tentar levar uma vida saudável, livre de tabagismo e uso de drogas, e com controle de fatores de risco como obesidade e diabetes.
Quando deve ser considerado um problema?
É normal que você queira muito saber o que saiu errado. Mas a investigação médica só deve ser realizada em alguns casos específicos.
Entre eles, quando o quadro se transforma em aborto de repetição. Isto é, quando o aborto acontece por mais de três vezes consecutivas.
Com apenas um episódio, por mais que queiramos muito saber o que aconteceu, não há, na maioria das vezes, nenhum exame que possa nos dar esta resposta.
Mesmo com exames de sangue possivelmente alterados, com um episódio de perda gestacional precoce apenas raramente há tratamentos eficazes ou diagnósticos a serem feitos.
Quando devo procurar um médico para investigação?
Quando ocorrerem dois ou mais abortos com menos de 20 semanas, ou perdas gestacionais mais tardias, como quando se suspeita de incompetência istmo-cervical, devemos procurar ajuda de um especialista.
Em caso de dúvidas, sempre é válido agendar uma consulta para esclarecimentos.
Existe algum tratamento?
Para algumas situações, sim.
Quando a causa é genética, algumas técnicas de reprodução assistida podem ajudar (através de análise embrionária pré implantação).
Quando há incompetência istmo-cervical (o colo do útero abre muito antes do previsto), existe a cerclagem, que o fecha com pontos que só são retirados perto do parto.
Para quem tem diagnóstico de trombofilia, doses de anticoagulante podem ajudar.
Mas atenção a este último diagnóstico: São necessários vários exames, e também a ocorrência de abortos de repetição ou eventos de trombose prévios, para se dizer que alguém tem trombofilia.
Como lidar com a perda?
A interrupção da gravidez é uma perda muito séria, e demanda, sim, um período de dor e de sofrimento.
Frases como “foi melhor assim” ou “logo você engravida d novo” costumam gerar mais sofrimento ainda.
Por isso, é importante que o tempo de luto aconteça e que ele seja respeitado. Viver o luto faz parte do processo.
Procurar ajuda especializada, apoio de familiares e amigos e muitas vezes, auxílio médico são fundamentais para a mulher que sofreu um aborto. Aquele bebê que nunca estará em seus braços com certeza viverá para sempre em seu coração…
Ginecologista especializada em Reprodução Humana, Endocrinologia ginecológica e Anticoncepção FMRP-USP, com mestrado e doutorado