A partir deste ano de 2020, fomos surpreendidos pela pandemia causada pelo vírus Covid-19 e uma necessidade de manter-nos ao máximo dentro de casa. Para prosseguir com nosso trabalho e oferecer suporte às pessoas em sofrimento psíquico decorrente do isolamento exigido como medida protetiva, nós, psicoterapeutas, fomos convocados pelo Conselho Federal de Psicologia a realizar os atendimentos na modalidade on-line.
Parece novidade, mas não é…
A modalidade de atendimento on-line começou a ser utilizada há mais de 15 anos, porém apenas com a finalidade de pesquisa e produção científica. A partir do momento em que nos mantermos em casa foi necessário para evitarmos a disseminação do vírus Covid 19, o trabalho on-line passou a ser adotado como uma solução cabível e eficiente para dar conta da demanda dos clientes, muitos em situação de vulnerabilidade e, outros, portadores de psicopatologias importantes, não tendo a opção de interromper o tratamento que vinha em andamento.
Foi e é preciso adaptabilidade, aceitação e flexibilidade…
Foi perceptível a boa aceitação daqueles que já faziam uso da internet, computadores e celulares em sua rotina cotidiana; estudantes e profissionais que lidavam com a informática e com aplicativos para facilitar as reuniões entre alunos e profissionais que estão distantes. Já aqueles mais tradicionais, que não tinham o hábito de recorrer à internet rotineiramente, sentiram um grande desconforto e uma certa resistência em aceitar a necessidade em prosseguir com a psicoterapia on-line. Vários chegaram a interromper o processo, decidindo retornar com a situação da pandemia sob controle.
Focalizando nos ganhos e não nas perdas
A questão que quero refletir neste artigo com vocês é a de que ambos, psicoterapeutas e clientes, se deram conta de maneira prática, de que a modalidade on-line é super confortável, facilita para que as sessões aconteçam pontualmente, sem os atrasos gerados por fatores externos, como pela dificuldade de deslocamentos, horários de trânsito intenso, gastos extras como o estacionamento para os carros, que por sinal são caríssimos nas grandes capitais ou até o desconforto por utilizar os meios de transporte públicos em horário de pico…quem mora na cidade de São Paulo sabe bem a que estou me referindo.
Usando a tecnologia à favor
Em meio a este panorama, psicólogos e clientes obtiveram ganhos, já que as sessões de psicoterapia on-line podem acontecer em qualquer local em que consigam um espaço de privacidade, e que o princípio fundamental do sigilo seja respeitado. Muitas pessoas se sentiram mais à vontade para procurar por um psicoterapeuta, por sentirem maior facilidade no acesso; outros encontravam dificuldades em sair de casa por questões relativas às suas questões pessoais ou psicopatológicas.
Puderam encaixar em sua rotina diária, entre os intervalos das aulas do colégio, da faculdade, ou mesmo do trabalho e, então, cuidar da sua saúde mental. Obtiveram ganhos também as pessoas expatriadas, com dificuldades em se comunicar em outro idioma, pois se sentiram melhor compreendidos com um atendimento feito em seu idioma natal, conseguiram buscar ajuda terapêutica e o acolhimento proporcionado por um psicólogo que compartilha da sua mesma cultura.
Fazer psicoterapia é cuidar da saúde
Hoje sabemos que cuidar da saúde não exige apenas uma alimentação saudável, com a prática de atividades físicas, as quantidades de horas de sono suficientes para descansar o corpo, metabolizar hormônios e refazer as energias para o próximo dia.
Mas afinal, o que é ser saudável?
Ser saudável envolve cuidados mais profundos, como resolver os conflitos, o gerenciamento de estresse, ter boas relações interpessoais, conseguir administrar a vida financeira, equilibrar as demandas profissionais com as necessidades da família.
Trabalhar o autoconhecimento, as emoções e desenvolver as habilidades sociais para dar conta das demandas dos relacionamentos afetivos e desviar das relações abusivas é imprescindível. Analisando todos estes fatores, percebem como a psicoterapia colabora para os cuidados da sua saúde holística, ou seja, cuidando da sua saúde como um todo?
Quebrando as resistências…
Com o passar do tempo, com a experiência obtida com o exercício da prática, desenvolveremos outras formas de exercer o nosso trabalho que nos deixem mais confortáveis, usufruindo desta comodidade proporcionada pela internet também nas
situações cotidianas e rotineiras, apenas para o nosso próprio conforto.
Temos a tendência a estranhar e a rejeitar as mudanças que acontecem repentinamente, buscando o formato até então conhecido e confortável, mas isto não significa que a nova proposta seja pior. É apenas uma outra forma de fazer as coisas, e pode sim, trazer ganhos.
A acomodação causada pela zona de conforto em que nos encontramos, muitas vezes, causam estas resistências às novidades. Lembrem-se que a adaptação à novas situações é uma importante habilidade que poderá ser exigida em vários aspectos da nossa vida, podendo ser desenvolvida em psicoterapia e é fundamental à nossa adaptação ao mundo.
Cumprindo uma das funções do psicólogo: levar informações a um maior número de
pessoas.
A pandemia trouxe uma grande modificação no comportamento da sociedade em geral, e para pacientes com psicopatologias importantes, a necessidade de envolverem-se em um tratamento longo é fundamental para uma boa qualidade de vida. A modalidade de psicologia on-line pode proporcionar às pessoas que moram longe dos grandes centros e, inclusive, fora do país, a encorajarem-se e terem acesso à profissionais especializados para um tratamento realmente efetivo.
A psicoterapia on-line veio para ficar e, provavelmente, ajudará a alavancar a prática da psicoterapia, já que se tornará ainda mais acessível, independentemente do local onde profissionais e pacientes estejam.
Psicoterapeuta que utiliza da modalidade online , para pessoas que moram em outras cidades e estados brasileiros e de brasileiros que moram no exterior.
Psicóloga graduada pela Universidade Paulista Unip.
Com Especialização em
– Teoria e clínica psicanalítica
– Neuropsicologia
– Psicologia do Esporte
– Transtornos alimentares
-Integrante da equipe multidisciplinar do Ambulim- ambulatório dos transtornos alimentares do IPq- HCFMUSP.
– Supervisora dos terapeutas da equipe de Cãoterapia na enfermaria do Comportamento Alimentar do Ambulim- IPQ HCFMUSP.
– Pesquisadora na área dos Transtornos Alimentares do IPQ- HCFMUSP.
– Coautora do livro “Como lidar com a automutilação “ Editora Hogrefe, 2017.