Antes de mais nada, quero deixar claro que este não é um texto sobre o lado “romântico” de ser-mulher, mas sim sobre a árdua vida das mulheres, sobre a força que temos e sobre a necessidade de nos libertarmos de tantas obrigações com o perfeccionismo.
É exatamente isso, mulher, este texto é para que você tire o peso que possa estar carregando por não ser perfeita, porque nenhuma de nós é, aliás nenhum ser humano é perfeito.
Quando buscamos ser perfeccionistas, enaltecemos o pior de nós, porque quando buscamos perfeição em fazer as coisas, mais nos damos conta de que isto não é possível, e nos sentimos fracassadas.
Em busca de compreensão
Qual mulher nunca se questionou, em algum momento de sua vida, sobre as suas responsabilidades, sobre o impacto da forte cobrança imposta por si mesma, pela própria família ou pela sociedade?
A impressão que tenho é a de que a mulher não tem opção, ela precisa dar conta.
Mulher Maravilha
Tem que dar conta das multitarefas do dia a dia, como a organização da casa:
Cuidar do conforto da família para que todos estejam bem assistidos;
Dar conta das responsabilidades relativas a educação dos filhos;
Das compras do dia a dia;
Estar sempre disponível afetivamente para as demandas familiares;
Dar aquela palavrinha sábia de apoio aos filhos, ao companheiro e aos amigos.
A vida profissional também tem lugar de destaque nas suas atribuições diárias, porque acima de tudo, a mulher tem que fazer dinheiro e ser bem sucedida, para conquistar o respeito das pessoas.
Ah, claro, estar bem vestida e super “ok” com a aparência, com as unhas feitas, depilada, maquiagem leve para o dia a dia e cabelos bem tratados.
Fazer atividades físicas porque existe sim, pairando na sociedade, um ideal estético e físico a ser seguido, assim como estar disposta para o sexo, já que muitos companheiros reclamam caso este descuido aconteça. A mulher está sujeita a muitas tiranias implícitas nas relações cotidianas.
Histórico da mulher
Sem se dar conta, a mulher absorve muitas tarefas pelo simples fato de historicamente sempre ter sido assim…e assim (ainda) permanece!
Em alguns países existe uma divisão mais justa das tarefas relacionadas aos cuidados com a casa e com os filhos, mas ainda prevalece o modelo patriarcal, em que o homem se preocupa com as questões financeiras e profissionais enquanto a mulher, se vira nos trinta sendo a mulher polvo. Conhece a mulher-polvo?
Apresento-lhe a mulher-polvo
Talvez você nunca tenha ouvido falar e talvez se reconheça através da definição da expressão “mulher-polvo”. A mulher polvo define aquela mulher que, assim como o próprio molusco, tem oito braços, ou seja, é capaz de fazer muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. E sim, lógico, ela dá conta, porque não dar conta não é uma opção, já está embutido este valor social como característico do gênero feminino.
Quantos conflitos para administrar
Quanta pressão nós mulheres sofremos sem perceber? Quantas vezes questionamos sentimentos, sucumbindo ao ideal imposto pela sociedade?
Temos que saber cozinhar com esmero, porque a família precisa se alimentar. Precisamos gestar os bebês e nos sentirmos plenas e completas mesmo enjoando horrores, sentindo dores nas costas, nas pernas, porque sofremos pelo aumento de peso durante a gravidez.
Não nos sentimos acolhidas quando reclamamos que está sendo difícil, muito diferente da idealização deste momento mágico.
É sim, nos sentimos culpadas por não acharmos este momento tão mágico assim, porque temos medo de que algo aconteça com a gestação, com o bebê, medo do parto, medo do pós parto e, medo de não dar conta de cuidar de um recém nascido que não vem com manual de instruções.
Metamorfose da mulher
Medo de não termos os nossos corpos de volta, de não nos adaptarmos à nova forma física. Medo de que o nosso companheiro perca o interesse por nós, que não nos enxergue mais como mulher e sim como uma mãe-santa.
Ser mulher é lidar com transformações mesmo que não estejamos prontas para elas. Quem aqui se lembra da primeira menstruação? Você realmente estava preparada para deixar de ser uma criança e sangrar todos os meses, por muitos e muitos anos? Ter que aceitar as cólicas fortes, as fases de tensão pré menstrual, naquela gangorra de hormônios e emoções? Qual mulher estava preparada para isto tudo? Mas não tivemos opção, tivemos que nos preparar da forma que foi possível.
A força e a coragem são as principais características das mulheres
Quero deixar esta reflexão para todas as nossas leitoras que possam estar se cobrando excessivamente e acreditando que não são boas o suficiente.
Vocês são ótimas da maneira como conseguem. Os sentimentos e as emoções fazem parte da vida e nenhuma mulher é mais ou menos sublime do que a outra.
Não se obriguem a estarem felizes e alegres o tempo todo. O descontentamento, a tristeza, a raiva são emoções tão importantes quanto a alegria e elas estão presentes em nossas vidas.
Precisamos nos conectar com a nossa essência e com o nosso EU, buscando compreender quais são os gatilhos que dispararam determinados sentimentos, pensamentos e comportamentos.
Aceitar os nossos limites, os nossos desejos e as nossas necessidades, nos amando dentro das nossas limitações. É libertador e genuíno.
As pessoas ao redor vão perceber esta sutileza e você viverá com uma sensação de paz reconfortante.
Psicoterapeuta que utiliza da modalidade online , para pessoas que moram em outras cidades e estados brasileiros e de brasileiros que moram no exterior.
Psicóloga graduada pela Universidade Paulista Unip.
Com Especialização em
– Teoria e clínica psicanalítica
– Neuropsicologia
– Psicologia do Esporte
– Transtornos alimentares
-Integrante da equipe multidisciplinar do Ambulim- ambulatório dos transtornos alimentares do IPq- HCFMUSP.
– Supervisora dos terapeutas da equipe de Cãoterapia na enfermaria do Comportamento Alimentar do Ambulim- IPQ HCFMUSP.
– Pesquisadora na área dos Transtornos Alimentares do IPQ- HCFMUSP.
– Coautora do livro “Como lidar com a automutilação “ Editora Hogrefe, 2017.